RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E OUTRAS DOENÇAS SISTÊMICAS

Você sabia que existe uma relação da doença periodontal (periodontite) com outras alterações sistêmicas como doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e síndrome metabólica??

A periodontite é uma doença inflamatória crônica e é causada pela presença do biofilme bacteriano (placa) e pela resposta do organismo. Ou seja, quando deixamos placa nos dentes (ou até o cálculo) as bactérias presentes começam a estimular uma resposta do sistema imune-inflamatório do nosso corpo, levando assim à destruição das estruturas que suportam o dente na boca como o osso alveolar. Essa destruição é muitas vezes silenciosa, pois a doença periodontal não leva à dor, mas causa alguns sinais como mobilidade dentária, sangramento, cheiro ruim pela presença de pus. Com isso frequentemente o paciente que não faz manutenções regulares pode procurar atendimento quando a doença já está com estágios avançados, diminuindo o prognóstico do tratamento ou, ainda, comprometendo a manutenção do dente em boca.

Mas como se dá a relação entre a periodontite e outras doenças sistêmicas?

A explicação que torna viável essa plausibilidade se dá por duas vias. A via direta, ou seja, a passagem de patógenos periodontais (bactérias da placa) da cavidade bucal para a corrente sanguínea através  do epitélio ulcerado da bolsa periodontal já que são capazes de invadir células do hospedeiro e atravessar a barreira epitelial até a corrente sanguínea. Ou pela via indireta, ou seja, ocorre um extravasamento de produtos inflamatórios locais (produzidos nas bolsas periodontais) para a corrente sanguínea, contribuindo para o aumento da inflamação sistêmica de baixa intensidade.

Em relação a diabetes existe uma via de mão dupla. O diabetes descontrolado atua como fator de risco para a periodontite, fazendo com que o individuo tenha uma doença mais agressiva e com pior prognóstico. Além disso, a doença periodontal não tratada também afeta o diabetes piorando ou dificultando seu controle glicêmico.

As doenças cardiovasculares, as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e o diabete (DM2) se configuram como as principais doenças crônicas não transmissíveis, tendo sido responsáveis, em 2015, por 51,6% do total de óbitos na população de 30 a 69 anos no Brasil, segundo fonte do Ministério da Saúde (2019). Há um evidente aumento na literatura científica que comprova a relação de obesidade a aumento do risco de hipertensão, DCV, osteoartrites, doenças respiratórias, DM2, disfunções reprodutivas, doenças na vesícula e câncer.

Quando se avalia a literatura sobre a relação da periodontite e obesidade observou que existe uma associação positiva entre obesidade e periodontite, com os indivíduos obesos apresentando de uma a três vezes mais chance de ter periodontite.

Considerando-se revisões sistemáticas recentes sobre o assunto, se observa uma associação positiva entre obesidade e periodontite, independentemente da idade e do sexo. Ainda, os aumentos nos níveis de sobrepeso e obesidade estão relacionados à doença periodontal mais extensa e severa, confirmando uma relação de dose-resposta entre estas condições.

Além da obesidade alguns indivíduos apresentam a Síndrome Metabólica (SM) que consiste em um conjunto de distúrbios metabólicos que aumentam o risco para eventos cardiovasculares e para o desenvolvimento de DM2. Os estudos sobre essa relação são mais recentes e ainda controversos, mas a maioria mostra uma associação positiva entre as doenças, ou seja, portadores de SM tem maior chance de apresentar periodontite.

E o tratamento?

Assim, o tratamento da periodontite nesses pacientes que já apresentam alguma alteração sistêmica como diabetes ou alterações metabólicas pode ser de grande relevância para o cuidado com a saúde deste indivíduo, uma vez que o tratamento periodontal poderia beneficiar o paciente em relação a uma melhora no seu perfil inflamatório e metabólico, diminuindo o risco a alterações cardiovasculares, que já existe pela presença da obesidade isoladamente ou ainda pela presença de outros componentes da síndrome.

As doenças periodontais são diagnosticadas e tratadas pelo periodontista através de exame de sondagem das bolsas e sessões de raspagem supra e subgengival, de acordo com a necessidade individual baseado na evolução da doença. Quanto mais cedo se faz o diagnóstico melhor, pois é possível tratar a doença em estágios mais localizados e com bolsas rasas. Converse com seu dentista, pois ao primeiro sinal de atividade de doença pode-se encaminhar para o profissional especializado.